terça-feira, 8 de julho de 2008

FLIP 2008 – Densidade à prova



Não que eu esteja duvidando, longe disso. A FLIP é, sem dúvida, um evento dos densos! São muitas mesas, muitos eventos paralelos, muitos preços altos, muito óleo dentro do lendário pastel de 30cm, muita gente circulando pelas desencontradas ruas do centro histórico de Paraty. Nós, munidos dos exemplares do Fabulário #01 e da edição especial do Fabulário em inglês, fomos representar a pequena parcela do que se pode chamar de “off do off” da FLIP. As edições em português esgotaram-se ao final de nossa jornada graças aos visitantes muito receptivos daquele lado do rio (o lado da tenda do telão). Mas quanto ao outro lado....

O jornalista Sérgio Rodrigues, que cobriu o evento em seu blog Todo Prosa, cita a possibilidade do público presente no evento ter diminuído. Dar continuidade a esse tema parece tarefa fácil: altos preços praticados por pousadas e restaurantes devido a aura “chic” do evento. Isso mesmo, “chic”. Parece que a grande graça da FLIP é dar de cara com uma personalidade literária passeando pelas ruas (e, se você for amigo da personalidade em questão, não deixar de comentar isso no seu blog depois!). Ou então figurar na fila para a entrada na tenda dos autores na frente ou atrás de outras personalidades. E, é claro, se você é a própria personalidade, deve obviamente estar escusa deste debate que poderia seguir por enfadonhos parágrafos à frente, mas não vai. Como última prova de fogo, as primeiras moças que abordei para apresentar o Fabulário, ao me ouvirem falar, logo disseram: “Tá vendo como tem gente interessante aqui? Estávamos comentando agora pouco que isso tudo esta parecendo Ipanema, Leblon, Copacabana...”.

Bem, nós fomos a FLIP. Chegamos na segunda-feira e pudemos observar os últimos detalhes da montagem das Tendas, apreciar as ruas quase vazias, visitar Trindade e passear de barquinho. Encontramos ainda na rodoviária duas personalidades, Matheus e Fernanda. O casal, quem diria, não foi para a FLIP, mas nos acompanhou nos passeios turísticos e numa noite num dos bares indicados pelo Delfin na terça-feira (“O pessoal que vem costuma ficar num daqueles bares ali” ele indica. “Qual? O Bar do Che?” pergunto. “Nãaaaaaaao, aqueles ali!” responde indignado apontando dois bares de esquina mais a frente cheios de mesas na rua). Ficamos até a sexta-feira. Não, não ficamos para a mesa do Gaiman. Mas conhecemos duas garotas com interesses em comum que, além de terem escrito uma cartinha pro Gaiman num cybercafé, se dispuseram a entregar Fabulário Special Edition para ele. Terão elas sobrevivido às horas de fila?

Quanto às mesas (e, enfim, a densidade), assistimos a todas sentados do lado de fora do telão. Notamos que os grandes “cabeças” da FLIP ficaram reservados ao fim de semana: Stoppard, Nooteboom, Gaiman, Price. Mas tivemos Schwarz debulhando Dom Casmurro com suas inseparáveis sulfites A4 sendo lidas vorazmente. Ao final, quase não deu a parecer que ele, de fato, havia reinventado a forma de ler e ver Machado.

Na quinta-feira, Roudinesco patinou para responder uma pergunta a respeito da escolha do terrorismo islâmico como exemplo de perversidade contemporânea e não qualquer forma de terrorismo, mas acabou se explicando enfim; Carlos Lyra quase apagou Lorenzo Mammi com tanto carisma e a honestidade daqueles senhores que se deram o direito de falar o que bem entendem; Xico Sá não economizou palavrões (isso sim é “personalidade”), mas Werneck acabou balanceando a mesa que parece ter sido uma das mais apreciadas pelos blogs afora, devido à quebra do padrão flipeano; e, por fim, Zoê Heller, umas das presenças que eu esperava e acabou deixando por desejar, mostra toda a sua elegância inglesa esbanjando arrogância (por sorte havia Inês Pedrosa).

Por uma mudança na programação inicial, pudemos ver as mesas “Formas Breves” e “Ficções”. Na primeira, Rodrigo Naves, que já conhecia no meio das artes plásticas, fala de suas pequenas ficções junto a Modesto Carone e Ingo Schulze. Quanto ao alemão, este já deve ter se cansado de responder perguntas sobre a Alemanha dividida tanto quanto eu cansei de ouví-las. Na segunda, Lucrecia Martel me fez feliz ao dizer que a grande referência de seu cinema é sua propria vivência e Noll foi o escritor de fala mais densa que presenciei. Embora nunca o tenha lido, suas histórias me pareceram igualmente densas.

Como pode ser observado pela densidade de palavras deste post, a FLIP é mesmo um evento denso. A minha única grande dúvida é quanto a densidade do interesse de seus visitantes.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

3 comentários:

Anônimo disse...

na verdade, quando se fura a fila, as cinco horas e meia sobraram todas pro gaiman. o richard price sumiu da mesa de autógrafos em menos de quinze minutos, talvez com medo do tamanho da fila do gaiman, e eu não consegui sair correndo atrás dele com o fabulário na mão.

mas consegui entregar os dois zines pro gaiman: "uns amigos deixaram comigo pra entregar um pra você e outro pro price, mas ele sumiu...", ele concordou com a cabeça, não sei se entendeu, acho que estava no automático, mas o caso é que ele recebeu, isso eu garanto. :)

de resto, voltamos vivas!

Fernando S. Trevisan disse...

Carol, valeu pelo relato - estava curioso para saber da experiência de vocês na FLIP. Outros de vocês comentarão?

Espero que o Gaiman venha a comentar sobre o fabulário :D

Luiz Falcão disse...

Haha!
Gaiman e Fabulário!? Será que dá samba? Obrigado pela força, Mari!

Pretendo fazer algumas postagens sobre a FLIP sim, Trevisan! As minhas mais específicas. Assim que terminar os relatos do Fantasticon.

Grandes Abraços
Luiz