terça-feira, 3 de agosto de 2010

Vernissage Exposição "Onze Lições"


Nesta Quarta-feira as 19h vai ser aberta a Exposição "Onze Lições", que conta com a participação de três integrantes do Fabulário: Carolina B., Diogo Nógue (eu) e Luiz Falcão.
A mostra acontece na galeria Vicente de Grado, na Belas Artes e permanece até o fim de agosto dia 27.

Os trabalhos apresentados são resultados das pesquisas poéticas de Onze Ex-alunos do Centro Universitário Belas Artes -SP e contam com videos, pinturas, gravuras, performances, objetos escultóricos e instalações.

De nossa parte, os trabalhos tem uma influencia (em diferentes níveis) do território do fantástico. Em breve postaremos fotos do evento.

Abraços esperamos vocês lá.

Exposição Onze Lições
Local: Galeria Vicente de Grado, Unidade 2 Belas Artes-SP
Rua Dr. Álvaro Alvim, Vila Mariana
Data : de 4 a 27 de Agosto
Horário: segunda a sexta das 9h as 21h, sábado das 9h as 16h

DIOGO (Nógue) NOGUEIRA ,
é Artista Visual,
Designer Gráfico e ilustrador.



terça-feira, 8 de junho de 2010

O Personagem Pensa? (Parte 3 Final?)


O Rafael em seguida ao que Luiz salientou do texto de Eco toca no que de concreto esta naquele parágrafo :

É possível afirmar e até tomar como verdade personagens e narrativas que os envolvem, pois essa é característica da literatura, ou antes, das narrativas (seja oral, visual ou escrita) .

Somos educados a ver na estrutura narrativa um propósito, e a ver nessa história uma correlação de fatos que as afirmam como verdadeira.

Até aqui nada de novo.

Eu e o Rafael falamos muito da verossimilhança em uma narrativa, e de como ela confere credibilidade a um livro ou conto.
Antes de tudo, narrativas e personagens não são verdades (nem existem), são representações de verdades e ou mentiras, sendo assim um livro ou conto não precisa representar verdade alguma e nem se preocupar com a verossimilhança.

Espelhamos nas narrativas nossas lógicas mundanas, mas isso também não é uma regra, deveríamos ter nos livrado desse fardo a muito, muito tempo.

Nós poderíamos ter finalizado a discussão nesse comentário de um dos nossos membros:


"Personagem pensa? Não.

Eu penso por ele? Nunca.

Eu penso? Sim.

Pensamento existe? Sim.

Mas personagem não tem pensamento? Não.

Personagem existe? Não."

Acho que nós, de antemão, já tínhamos burlado essa via de interpretação lógica onde seria ridículo um personagem pensar. Porém esta via nos leva a outros questionamentos interessantes.


Penso, logo existo;
Não existo, logo nunca poderei pensar que penso e que existo;
Sendo assim, não escrevi essa frase.

Será possível escrever ou criar uma narrativa onde nenhuma das nossas regras servem de parâmetro?
Essas tentativas de oposição sempre caem em negativas ou inversões das nossas lógicas.

Por outro lado: teria relevância ler/ver/ouvir uma narrativa que não tivesse a mínima relação com nossa realidade? ou até, isso seria inteligível?

Por exemplo: um high fantasy, ou sci-fi nos fazem experimentar lugares que nunca estivemos ou poderíamos estar, mas conferem realidade a essas dimensões. nos colocam na posição de descobridores (genericamente falando).
Mas esta perspectiva, de descobrir, já confere padrões de avaliação com a nossa lógica vigente.

É importante lembrar que não somos escravos da verossimilhança. Porque no final estamos trabalhando com representações. Tudo é possível.

"Eu penso por ele? Nunca."

Acho que mesmo o personagem não existindo, podemos pensar por ele, seja como escritor ou como leitor (em diferentes níveis).

O personagem não existe no nosso mundo, mas ele tem uma existência, assim como cada sonho, ou devaneio que criamos em nossas mentes tem uma existência. Acontece que quando tentamos "agarrar", interagir ou conviver com um sonho/devaneio ele nos escapa, ou se transforma, não criamos um vinculo.

(Tem pessoas que criam vínculos com sonhos ou com pessoas que não existem, (rs) mas isso é assunto para outro tópico sobre transtornos psicológicos.)

O personagem não existe, mas ele tem uma existência (isso é possível?).

Ele não existe no nosso mundo, não possui a mesma existência que eu ou você, mas ele existe para seus semelhantes e em seu contexto.
Eu também, posso andar com Dante debaixo do meu braço a qualquer momento, e posso acompanhá-lo nos círculos do inferno.

Do mesmo modo posso escrever sobre um personagem, o Fabu, um estudioso da literatura, contar as desventuras e aventuras dele para meus amigos, mandar uma fofóca da vida dele por e-mail e as pessoas podem rir, chorar ou me achar um chato com esse papo de Fabu.

A narrativa é a forma de atingir a existência de Fabu, de qualquer outro personagem ou pessoa, seja no mundo da literatura ou no real respectivamente.
Partindo disso, eu acredito que é possível pensar pelo personagem, pensar com o personagem, antecipar pensamentos do personagem, e o que vai confirmar ou desmentir esses devaneios vai ser a narrativa.

Então concluindo:

Personagem em sua definição pura e lógica não pensa.

Mas ao trabalhar um personagem ou ler um personagem entramos em contato com sua existência e nessa existência é permitido tudo, até mesmo, o personagem pensar.

DIOGO (Nógue) NOGUEIRA ,
é Artista Visual,
Designer Gráfico e ilustrador.

terça-feira, 1 de junho de 2010

O Personagem Pensa? Parte 2


Nesta semana o segundo tempo da discussão "O personagem Pensa?"
Já chamamos para nossa roda Umberto Eco e Descartes, além de outros autores e livros que citamos como exemplos dos personagem pensantes.
Na primeira parte da discussão os membros (eu:Diogo) e Rafael, demos argumentos para afirmar que o personagem pensa, baseando sobretudo na questão da verossimilhança, que é necessária em um texto para imergir o leitor.

O juiz apita, jogando tais palavras em campo : Realidade, Verdade, Verossimilhança e Existência.

Percebemos que começamos a discussão burlando de antemão a via do raciocino lógico.

Deixamos todo o papo filosófico de lado e refizemos a pergunta: O personagem pensa?

E a resposta mais lógica é:
Ele não pensa, ele nem existe!

Pronto, poderíamos ter encerrado a discussão por aqui e ido ler um livro.
Alguns se deram por satisfeitos e se foram.
Maaas... as palavras estavam lá prontas para se filosofar... não resistimos.

Os personagens não existem, são representações, assim como uma narrativa é a representação, nunca a coisa em si. Então o que podemos dizer da verdade ou da mentira em uma narrativa?
A verdade, como aprendemos com a história, depende sempre do ponto de vista de quem a conta.
E a verossimilhança, é ingrediente principal de uma narrativa? já que estamos falando de representação, por que não esquecer do padrão de real e criar livres?

Rafael (Rato):

Entendo seu ponto quanto a verossimilhança, principalmente a questão linguística presente aí. Em geral, concordo com esse argumento quanto a verdade e quanto a ter "cara" de verdade. Difícil ver uma possibilidade de extirpar essa parte de nós, a parte que busca a verdade e não, digamos, a mentira. A verossimilhança aparece como a mediação entre verdade e mentira, a demonstração que verdade é um valor, pois passa a dar valor de verdade a mentiras.

Adentramos no inóspito território do valor.

Bom, temos nossos olhos. A partir deles construimos as medidas que nos vão dar o sentido de verdadeiro ou falso, contudo nossos olhos já são um resultado. Não partimos de uma "tabula rasa" mas somos construídos a partir de uma série de noções providas socialmente. Procuramos na "realidade", que é nosso olhar, a base para a produção desse valor.

Deste modo, se represento a dor da perda, quem tomar contato com essa representação deverá conhecer esse sentimento, para então conseguir apreende-lo, ou seja, para dar valor de verdade a ele. Caso seja a representação de um sentimento, ou de algo que suporte apenas "sim" e não", então temos como resultado um valor de verdade. No caso de representar algo mais "concreto", como um homem, podemos ter o valor de verossimilhança, pois é possível atrelar o verdadeiro a algo que seja falso.

A importância do nosso olhar é que ele mesmo já é representação da realidade (nós não temos acesso a realidade mesma), assim a produção artística passa a ser um bigode numa mona lisa que chamamos realidade, mas que já é interpretação.

Retomo o pensamento de David Hume, o qual questiona a verdade do principio de causalidade... Ao vermos algo ocorrendo, como ao jogarmos uma maçã da janela, podemos afirmar sem dúvida que aquela maçã caiu da janela, mas não que a próxima maçã que jogarmos fará o mesmo. Assim nos habituamos a crer que o que acontece sempre continuará acontecendo sempre... Como ao vermos o pensamento sempre ligado ao Eu.

Por isso, que disse desde o início que o personagem pensa e que o problema maior é a realidade, a realidade do personagem (se ele existe) e a realidade do artista (se ele existe), que o pensamento existe é algo difícil de refutar... Assim, o pensamento do personagem existindo o faz tão real quanto eu, o Álvaro de Campos, vocês ou o Fernando Pessoa.
Voltemos com o Umberto...
Eco, tem mais alguns comentários?


Umberto (Eco):

Sobre o modelo de verdade afirmado em textos literários :
"Para muitos, essas coisas poderão parecer obviedades, mas tais obviedades (muitas vezes esquecidas) confirmam o mundo da literatura como inspirador da fé na existência de certas proposições que não podem ser postas em dúvida, com o que ele oferece um modelo de verdade, ainda que imaginário."

Sobre tomar um personagem literário como representação, ponto de referencia, uma verdade :
"Mas certos personagens literários, não todos, acabam saindo do texto em que nasceram e migrando para uma região do universo muito difícil de delimitar."

"Fazemos investimentos afetivos individuais em muitas fantasias que criamos nos nossos devaneios. Podemos realmente nos comover pensando na morte de uma pessoa amada, ou ter sensações físicas ao imaginar um contato erótico com essa pessoa"

"Teríamos então de encontrar a região do universo em que esses personagens vivem e determinam nosso comportamento, tanto que os tomamos como modelo de vida, própria e alheia, e entendemos muito bem quando se diz que alguém sofre de complexo de Édipo, tem uma fome de Pantagruel, um comportamento quixotesco, os ciúmes de um Otelo, uma dúvida hamletiana ou é um don Juan incorrigível."

Com esses trechos de Eco damos fim ao segundo tempo, o juiz marca a prorrogação. No proximos post o deradeiro (será o fim mesmo?) resultado da discussão "O Personagem Pensa?"

domingo, 23 de maio de 2010

O Personagem Pensa?



A alguns meses surgiu na lista de discussão do Fábulário a questão "O personagem pensa?" A pergunta surgiu com o Luiz, que leu um texto de Umberto Eco sobre a função da literatura.

Nesta postagem vamos mostrar o desenrolar e o resultado da discussão quase que metafísica da existência do personagem e seu pensamento.

e Começa a partida...


Luiz (Falcão):
Com a palavra, Umberto Eco:

"Podemos fazer afirmações verdadeiras sobre personagens literários porque o que lhes acontece está registrado em um texto, e um texto é como uma partitura musical. É
verdade que Anna Karenina se suicida, assim como é verdade que a "Quinta Sinfonia" de Beethoven foi escrita em dó menor (e não em fá maior, como a "Sexta") e se inicia com "sol, sol, sol, mi bemol". (...)"

Daí para admitir que o personagem pensa é um passo!

Rafael (Rato) :
Acho que ele não está defendendo que o personagem pensa, mas que podemos falar verdades sobre personagens (que não existem)...

Isso ao menos mostra que coisas, as quais estão em torno do personagem, podem ser verdadeiras. Talvez perfazendo um mundo e dando esse valor de realidade ao pensamento do personagem.

Mesmo assim acho que a discussão é um pouco vazia se não soubermos o que estamos chamando de pensamento, pois parece que personagem já temos claro...

Será que os personagens ainda pensam?


Segundo Descartes (1596-1650),"a essência do homem é pensar". Por isso dizia: "Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente".

F
oi ele também quem disse: "Penso, logo existo"


Pode se considerar pensamento a ação dos nossos neurônios em receber e transmitir estímulos, seja para nossa movimentação, ou sensação.

Mas a palavra pensamento, na verdade carrega consigo várias outras funções do nosso cérebro, tais como :Imaginação, raciocínio, atenção, percepção, memória e juízo.

"A essência do homem é pensar", a característica principal que transferimos a um personagem.
Rafael (Rato):

Um personagem como o Rodia do Crime e Castigo pensa e podemos dizer com uma veracidade nem sempre encontrada em pessoas, mas isso me parece bem conectado a "lírica" própria do texto.

(...)Nós conseguimos ver uma relação de causa e efeito operando e por isso algumas vezes podemos até antecipar estes pensamentos.
O personagem pensa assim, porque suas ações transmitem a nós alguma familiaridade, elas nos transmitem verossimilhança mesmo quando estão colocadas distantes da verdade.

Existem outras questões, por exemplo o Drácula, que é escrito em diários. Nesse caso o pensamento dos personagens é a única história, não há livro sem que os personagens pensem e por isso há comunicação total do personagem com o leitor.

Outra possibilidade fácil é o abuso desta questão dentro da narrativa, o que é feito na "literatura contemporânea". Vemos personagens que não só pensam, mas o fazem de um jeito quebrado, por diversos motivos... Problemas mentais, vivencias únicas, estranhamento do trabalho, ou apenas pelo rumo incomum da história... Nesses a mágica fica por parte de eliminar de vez a verdade e trabalhar com uma verossimilhança tênue.

Eis que entram em jogo a verossimilhança, a verdade e a representação do pensamento.

Nós, como leitores, entramos em contato com o pensamento do personagem ou do escritor?

e como escritores, pensamos pelo personagem, somos o personagem?
Diogo (Nógue):

Enquanto está se construindo a personagem, desenvolvendo sua índole, seu caráter, dando-lhe qualidades, ferramentas, ela automaticamente vai ganhando uma certa autonomia.

Ao colocar essa personagem em determinado contexto é esperado que ela tenha determinadas
ações. e é nesse ponto que alguns escritores, no mínimo desatentos, tiram a verossimilhança de uma ação da personagem e tira a "magia" ou imersão do livro.

Uma tática para tornar a personagem um gênio que sempre tem resposta pra tudo é colocar diante dele um problema que o leitor ou qualquer outra pessoa normalmente não teria a solução. mas você como autor tem a resposta desse problema e vai adicionar ao personagem um conhecimento, qualidade ou ferramenta extremamente necessária para solucionar o problema em questão.

Até então o leitor (as vezes nem o escritor) imaginava que a personagem era capaz de tal ato, mas o contexto exigiu um desafio que é vencido abrindo na personagem portas desconhecidas.
Exemplos disso são o Sherlock Holmes, o seu antecessor Auguste Dupin, e seu filho mais novo (e menos dotado literariamente falando) Robert Langdon, e até o famoso MacGyver (também conhecido como Magaiver hehe )

As vezes um escritor que não leva em conta o pensamento do seu personagem acaba o levando a ações descabidas para chegar em um objetivo pré-definido.

Acho que tudo começa no princípios básicos da nossa realidade : Pessoas pensam para executar ações, e o leitor transfere isso para o personagem que mesmo tendo sua existência apenas no papel, por ter características humanas, se enquadra na regra.
é papel do escritor corresponder a essa regra, ou dar suporte para quebrá-la.



Termina o primeiro tempo:
Até aqui o time dos apoiadores do Personagem pensante ganhou, mas nem todos concordam com isso. Na próxima postagem o jogo continua, e faremos uma lobotomia em campo.