Compartilhamos entre os membros o desejo de falar de diversas outras artes cujo fantástico é fonte de alimento. Entre elas as Artes Visuais e a Música, e, quem sabe em momentos de mais desprendimento, o Teatro e a Dança. Mas como para nós, (e acho que posso falar por todos do grupo), palpite por palpite, opinião por opinião não é o que interessa como produto final, pode demorar um pouco esses assuntos chegarem por aqui.
Falar do que nos instiga, observar, debater abordagens e soluções em todo e qualquer gênero para se criar um repertório além dos clichês, dos caminhos pobres, ou até mesmo usá-los com consciência. Esse é o objetivo que acredito ser interessante.
Após o Luiz estrear a tag "música" fiquem com a estréia da tag "artes visuais"
Boa Leitura a todos
O Artista
Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão ou Tunga, como ficou conhecido mundialmente, é um artista brasileiro nascido em 1952 em Pernambuco. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1974, onde cursou Arquitetura, atuando, porém, como artista plástico após se formar, ganhando diversos prêmios durante as décadas de 80, 90, que impulsionaram sua carreira.
Sendo um dos artistas contemporâneos mais conhecidos e elogiados atualmente, Tunga já fez exposições nos principais museus e galerias de todo mundo, incluindo o MoMA em Nova York, o Louvre em Paris entre tantos outros.
Suas obras que mais se destacam são geralmente esculturas e performances, que levam sua marca em acabamentos perfeitos, demonstrando sua grande dedicação no desenvolvimento de seus projetos.
Para saber mais sobre o artista veja sua pagina no site do Itaú Cultural, ou ainda, leia duas de suas entrevistas no Jornal da Folha on-line aqui, e aqui.
O Pretexto
O novo projeto (não tão novo assim, já que foi lançado em 2007) A Caixa de Tunga é o pretexto inicial para essa postagem. A caixa traz uma coleção de livros com obras do artista, cada um com formatos diferentes, diversos papéis e camadas de impressões. Um item de colecionador de arte, que, como tal, teria o preço de um órgão humano no mercado negro. Porém, a Cosac Naify não o produziu para ganhar muita grana, mas apenas para comemorar os 10 anos da editora, e sendo assim, distribuiu os 500 exemplares impressos entre universidades (publicas e privadas) e bibliotecas de todo o país.
E se você já clicou no link ali, ou acessou em outra ocasião a página d'A Caixa de Tunga no site da CosacNaify, já ficou sabendo que, além disso, os livros estão disponíveis em pdf para serem baixados por quem se interessar. Sem vender seu olho ou seu coração é fácil ter a caixa de Tunga em casa. Pode ser que a sua não seja imantada, nem que tenha camadas de verniz etc, mas quem liga? Esqueça o fetiche do papel e se divirta.
E se você gostar bastante e ficar triste por não poder ter um em casa, a Cosac já pensou nisso e colocou um link para o primeiro livro lançado na editora, pelo mesmo Tunga, o Barroco de Lírios.
"Cada livro desse seria uma espécie de barco num oceano, solto. Então, em cada momento, qualquer um dos leitores pode se tornar o capitão de um desses barcos e ir em direção a um outro barco e ocupar um outro barco e reformar a sua própria frota de pequenos barcos, que são esses livros. Quer dizer, eu vejo esses livros com uma certa independência e, ao mesmo tempo, com uma natureza muito próxima."(Tunga em entrevista por Antonio Gonçalves Filho, também presente no site da "Caixa")
O Trabalho
Dois pontos a se ressaltar sobre a obra de Tunga são sua pesquisa e o processo de desenvolvimento.
Seus trabalhos tem como início, muitas vezes, fatos cotidianos, acontecimentos da sua vida ou a relação entre duas coisas diferentes. Um caminho comum também é a sua relação com outras áreas de conhecimento, como a literatura, filosofia, química e biologia que servem de alimento de pesquisa para suas obras. É nessa construção de relações que os trabalhos de Tunga são criados.
Com frequência, Tunga busca a ancestralidade, a história dos objetos, dando preferência a fontes mitológicas e ritualísticas de antigas civilizações. Seus objetos são deslocados no tempo trazendo dentro de si conceitos e marcas de lugares distantes.
A obra Olho por Olho é um bom exemplo do método de Tunga. No livro de mesmo nome, o artista conta que esta obra teve início quando ele encontrou dentes de leite de uma amiga de infância guardados em uma pequena caixinha e para surpreendê-la desenvolveu uma pequena jóia com os dentes incrustados e a presenteou.
No decorrer do desenvolvimento desse trabalho, Tunga pretendia um "restauro de uma mistificação dos dentes", gerida pelo fato destes terem uma grande importância ritualística nas antigas civilizações. Invocando uma aura mágica e estranha ao mesmo tempo, Tunga vai desdobrando esse trabalho com diversas combinações, entre desenhos, esculturas e performances. De imensos dentes de metal pendurados por enormes correntes a pequenos dentes de porcelana perdidos em um chão cheio de leite em pó. o artista brinca com jogos de palavras, ou transforma os dentes em um jogo de xadrez em escala humana, onde os visitantes podem escolher tomar o lugar de uma das peças para jogar.
Um outro trabalho de Tunga que teve início nos dentes é o filme Medula, que aparece também no livro Olho por Olho como um conto no mínimo estranho e uma sequência de fotos, que mostra um casal se preparando para uma festa. O marido vai fechando o longo vestido da esposa, porém os botões são dentes humanos.
"Como duas coisas se encontram? O que acontece do encontro dessas duas coisas? Por que essas coisas se encontram? E como do encontro pode vir a se produzir uma terceira coisa que não está nem na primeira, nem na segunda. Uma questão de como dois corpos ocupam o mesmo lugar, ao mesmo tempo, e formam um terceiro sentido que não está nem em um, nem em outro."(Tunga)
Não pretendo com essa postagem colocar rótulos ou enquadrar artistas. O interessante de se falar da obra de Tunga é que não há nada explícito em sua construção. Seria muito fácil relacionar artistas que pintam fadas, elefantes cor-de-rosa ou coisa que o valha com a aura do fantástico e, sobretudo, seria um problema enorme. Se começar um caminho como este, pode-se pegar uma maquina de rotular e ir etiquetando todos os artistas da idáde média, os clássicos, todas as vanguardas e muitos artistas contemporâneos em gêneros (o que seria um erro e nada interessante). Por isso, meninos e meninas, tomem cuidado, isso serve tanto para Arte Visuais como para a Literatura.
é Designer Gráfico e ilustrador,
estudante de Artes Pláticas
no Unicentro Belas Artes
2 comentários:
Diogo!!! achei mto bem escrito, e a
bom saber mais sobre o Tunga. eu, particularmente não sabia qse nada.
Parabéns
(sua foto tá mó simpática ^^ HAUH)
FABULOSO!!!
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