Areia nos Dentes, primeiro romance do porto alegrense Antônio Xerxenesky, nos foi dado de presente numa noite chuvosa do mês de agosto, devidamente autografado por seu autor. Aqueles que tiveram a oportunidade de ver um livro autografado por Antônio já se depararam com sugestivos desenhos: o meu exemplar vem com um polvo sorridente denominado “Cthulhu feliz”, para que não houvessem dúvidas de sua procedência.
Levei para casa, como promessa, um livro de faroeste com zumbis. Weird Western com experimentações pós-modernas e fanfarronices metalinguísticas. Um pastiche que não faz você rolar de rir, mas deixa no ar um clima de absurdo. Ok, o livro não ficou a dever nenhum destes elementos. Mas se olharem a fundo, com atenção, sem piscar uma só vez, vão notar que Areia nos Dentes é uma história sobre o porão dos Marlowes.
Martin Ramirez, o filho bom e corajoso do clã dos Ramirez, arrisca sua vida numa noite trêmula tentando descobrir o que raios havia no porão dos Marlowes. Uma bala súbita, vinda só Deus sabe de onde, quase o atinge. Martin foge, corre pelas areias de Mavrak, chega são e salvo em casa. Na manhã seguinte, é encontrado morto com uma bala cravejada nos intestinos. Assim começa a história contada por um filosófico senhor mexicano chamado Juan, a história de seus antepassados.
O livro segue alternando hora para o velho mexicano, seus copos de tequila e sua inquietação diante da distancia afetiva do filho, hora para a história dos Ramirez e dos Marlowes, envolvendo intrigas e duelos em Mavrak, mulheres desinibidas, um xerife forasteiro e alguns mortos-vivos. Assim como Juan, o leitor percebe não se tratar apenas de um faroeste excêntrico, e sim uma história sobre pais e filhos. Sobre o medo do novo (as terríveis metralhadoras que habitariam o porão dos Marlowes ou o computador que corrompe parte do texto de Juan com um vírus?) e o medo na noite.
Ficamos sem saber o que há de tão misterioso no indevido porão, assim como não sabemos quem atirou em Martin e nem com quantos homens Vienna dormiu enquanto seu namorado estava viajando. Um pacto foi quebrado: aquele que, em letras miúdas, obriga o narrador a não deixar pontos sem nó e, ao final da história, colocar tudo em pratos limpos. O porão dos Marlowes permanece escuro como a noite, para que os leitores possam “preenchê-lo com os recantos mais escuros de suas próprias almas".
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CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes
2 comentários:
nossa ... me deu uma vontade danada de comprar esse livro....ehehheheh
Tenho uma vontade terrível de adquirir esse livro. Só fiquei curioso quanto ao narrador do livro! Na entrevista que eu li do Antônio, ele diz que gosta de brincar um pouco com o narrador.
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