terça-feira, 18 de março de 2008

Boca do Inferno.com #1

Estivemos, discretamente, no lançamento da HQ Boca do Inferno.com, que aconteceu na livraria HQ Mix, praça Rosevelt, logo depois de toda a sorte de teatros e barzinhos e barzinhos-teatro.

Não conhecíamos a livraria ainda, e ela se revelou um ótimo espaço, com lugar para todos os tipos de publicações da banda desenhada (e outros mais) e representando muito bem o "cenário" independente. E o lugar ficou estreito para tanta gente. Lotou... e... bem, o ar condicionado pifou.... Detalhes sórdidos à parte, estavam lá as onipresentes escritoras Giulia Moon e Martha Argel - figuras que, estamos descobrindo, estão em todos os eventos disso que chamam de (lá vai, vou falar) "fandom". (Deu também para comprar uma edição do Jukebox. Quadrinhos de primeira grandeza! desculpem o parênteses).


Agora o Boca do Inferno.com que é bom, esse sim, vale a pena uma conferida. Aliás, uma não: duas. O fenômeno por si só é curioso. Como eu comentei aqui, a coisa começou na internet em 2001 e este ano foi parar no papel, em formato de quadrinhos, por iniciativa da SM Editora - que trouxe vários quadrinhos e de repente, sumiu da internet.

A primeira edição (e espero que não seja a derradeira, contrariando as espectativas de qualquer quadrinho nacional comercial neste mundo de deus) traz quatro HQs e quatro ilustrações muito bacanas. Há também uma coluna sobre cinema de terror, que acaba sendo uma forma de consolidar o que existe tão vastamente no site deles - sem se tornar supérfulo ou desinteressante.

A primeira e última histórias (principalmente a última, da qual retiramos a cena acima), são muito bem acabadas e apresentam um domínio de linguagens já consolidadas dos quadrinhos. Mas não se engane, perspicaz leitor, a segunda história "Coleção de Naturalista" pode aprentar ser mais "fraquinha" ou menos sofisticada. Ela parece fazer parte de uma produção que não usa com potencial a potencialidade dos quadrinhos (falo de um tipo de HQ que poderia não ter desenhos, ou mais raro, que poderia não ter textos... mas tem. Vocês devem conhecer alguns exemplos). Aqui, desenho e texto caminham quase independentes, mas lado a lado. E o que parece uma inabilidade figurativa e uma resolução deprimente revelam, vejam só, uma sensibilidade construtivamuito curiosa. Vejam os insetinhos....

Bem. Ademais, essa história do conde Lopo não tem nada de muito surpreendente. Confirma-se como uma paisagem... algo talvez monótono, mas agradável de se olhar. O mesmo não pode ser dito da terceira história, "Para o horror e além". O excesso de texto só confirma qe não há necessidade dos desenhos. Aqui sim, temos um caso típico de prosa ilustrada: mau uso da linguagem HQ, para quem ainda não percebeu o teor crítica. A impressão ruim é confirmada pela qualidade ruim da imagem (resolução e compactação). Ainda assim, a leitura pode agradar os menos exigentes - e aos mais saudosos por se tratar de uma narrativa "clássica".

Mas não se assuste (pegaram?)... O melhor da edição está sem dúvida na primeira e última histórias. Despretenciosas e até bem humoradas, elas trazem um lado do terror que dá gosto de ler. Os desenhos são bons, a contrução da história clara, a leitura vai que é uma beleza... O tema não pretende superar ou avassalar ninguém. Bom e sútil entretenimento.

Por três reais?! Que sejam 5 pelo correio! Vale cada centavo.

E se pensarmos que esta é primeira... aí que vale mais. Confiar numa equipe como a de Boca do Inferno.com para escrever histórias de terror - de toda a espécie - parece mais que sensato. E a tendência que esta primeira edição aponta não é outra: se o projeto e a intrépida editora SM se mantiverem podemos estar diante de um verdadeiro marco na história do quadrinho nacional.

Sem brincadeira.


LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no
Unicentro Belas Artes



PS: Olhem só. Nesta onda de quadrinhos de terror, voltei da Fest Comix com -entre outras coisas suculentas - a legendária revista Mephisto: terror negro. Cr$90,00. Vamos ver se eu consigo resenhar aqui em breve.

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