domingo, 21 de setembro de 2008

Invisíveis porque querem (parte 1)

Acabo de voltar do evento Invisibilidades, do itaú cultural. Rapidamente, vou tentar dar um parecer sobre a primeira das mesas que aconteceram lá ontem (afinal, já passa da meia noite, então é ontem). A segunda mesa fica para uma próxima postagem.

Mesa 1:
Por uma Ficção Científica pós Moderna

Mediação de Gerson Lodi-Ribeiro. Com Max Mallmann, Antônio Xerxenesky, Octávio Aragão, Nelson de Oliveira

Gerson Lodi-Ribeiro
A Não-Mediação
Gerson Lodi-Ribeiro pode ser uma referência para a literatura de ficção científica brasileira (e de história alternativa como ele faz questão de lembrar em todas as ocasiões). Mas isso não foi importante para este debate: cá entre nós, ele não foi igualmente feliz como mediador dessa discussão. Contribuiu mais, a meu ver, como participante do debate.

Autoridade
Max MallmannHá um problema recorrente nas reuniões do Fabulário que é a falta de autoridade sobre determinado assunto, ou melhor: há um ou outro assunto no qual todos querem dar uma de "autoridade sobre o assunto". Com o tempo vamos superando esse problema e aprendendo a entender nosso lugar junto às coisas, afinal, nos reunimos bastante. Esse problema fica especialmente engraçado, ou curioso, quando é visto em um evento do porte do Invisibilidades. (Salvam-se da acusação Antônio Xerxenesky e Max Mallmann, que mandaram bem no quesito "meu espaço".)

Octávio AragãoPós-Hein!?
Há muitas teorias sobre a pós modernidade. A minha teoria preferida é a que chama a pós modernidade de modernidade líquida. Liquefazer é um verbo excepcional, na minha opinião, podemos usá-lo para falar de muita coisa do nosso tempo - e coisas boas. Eu não sei particularmente o que o Octávio Aragão entende por pós-moderno (parece que ele nunca deixa muito claro qual é a referêcnia dele, mas não tenho certeza quanto a isso), mas ele parece levar isso muito a sério mesmo, quase uma obsessão no percurso discursivo (não é a primeira vez!). Os outros componentes da mesa, menos fanáticos ou exaltados, também deram sua contribuição. Mas como sempre, tudo que é pós moderno se desmancha no ar, e ficamos como começamos...

Inovação?
Em um certo momento, o Octávio falou de inovação, que tem que inovar na literatura. Deu a impressão até que é para isso que existe essa tal pós-modernidade (hihi!). Acho que é de Adorno a frase "não existe o novo, o que existe é o desejo do novo" (e devo esta afirmação a Evandro Carlos Jardim). Nada poderia ser mais moderno que ess coisa de inovar, não é? Na minha opinião: liquefaçam.

Antônio Xerxenesky

O rótulo que te pariu
Tem algo que eu provavelmente nunca vou entender que é esse fetiche pelo rótulo (falaram tanto sobre fetiche pelo papel hoje na mesa seguinte, deviam ter dito algo sobre esse fetiche louco pelo rótulo). Funciona assim: algumas pessoas tem um desejo insano de ser chamado de Ficção Científica. Ou pior: de chamar isso ou aquilo de ficção científica. Ainda pior: de ficar discutindo, muito praticamente, se Moby Dick ou Saramago são ficção científica. Às vezes é só um recurso retórico, que varia do divertido: "Moby Dick é branca, é grande e nada mata ela! Só pode ser mutante" - fala do Octávio. Para o insensato: "Um escritor de ficção científica não ganha um Nobel. Se o Saramago escrever algo de ficção científica ele não vai mais ser o Saramago" (sic) - não lembro o autor. Bem insensato se considerarmos o diálogo que existe entre o recentemente adaptado para o cinema Ensaio Sobre a Cegueira e a FC.
E claro, completamente insensato se considerarmos que a ganhadora do Nobel 2007 de literatura foi a Doris Lessing, que tem uma grande parte de seu trabalho desenvolvido na ficção científica. Ainda que não tenha sido exatamente por este mérito.
O que quer dizer então um sujeito que usa essa argumentação?

Nelson de OliveiraO Nelson de Oliveira quer escrever ficção científica como um manifesto anti-literatura convencional. Aí batata: o sujeito se agarra num sub-gênero muito "mal visto" pela "elite arrogante dos narizes-empinados" (palavras minhas, ele não disse nada disso) com a intenção de aprofundar-se no enredo. Beleza: pitoresco e exótico, perfeito!

Já o Xerxenesky foi praticamente caçoado quando disse que não achava que o livro dele era ficção científica. A fome por rotular é tão intensa que os rotuladores nem se preocuparam com detalhes. Minha impressão é que soou mal ao público. Ao menos, soou mal a mim.

O Max Mallmann, único na mesa que eu ainda não conhecia, pareceu também bastante sossegado a respeito. Já o Octávio nem se fala, pareceu febrilmente atacado pelo fetiche do rótulo.

Será que não seria, nessa altura tão "pós-moderna" do campeonato se preocupar menos com esse ou aquele rótulo internacional e simplesmente priduzir literatura de qualidade? Será que o Saramago tivesse se preocupado enormemente em fazer "ficção científica" ele teria ganho o nobel e sido adaptado pelo Meireles (e olha que essas duas coisas são as mais "fichinhas" e superficiais, heim!)? O que será que se ganha com esse esforço de rotulação?

Liquefaçam, por favor
Os pontos altos da palestra foram uma ou outra reinvenção da roda (pode-se falar em FC no Basil sem isso? eu acho que sim, né, mas vamos ver...) e a batalha fanfic X startreck. Alfinetadas ressentidas para tudo quanto é lado. Bom... é assim, né? Fazer o quê? Saí de lá meio lamentoso, é verdade: até quando a patota vai resistir tão sólida como está?

EM OFF
Fabulário

Em off, realizamos duas reuniões do Fabulário: uma antes do evento, sobre o fanzine, e outros projetos, e outra depois do evento (não resistimos a sentar em um restaurante e conversar um pouco com as pessoas que conhecemos e as que não víamos com frequência). Essa segunda girou em torno de literatura, cinema e rpg de terror, do escritor Chuck Palaniuk, de um conto do Carlos Orsi (do qual temos falado bastante) e de impressões dispersas sobre o Invisibilidades.
Fabulário mais amigos

O evento contou com apresentação elegante (ponto para o Fábio que se mostrou um gentleman e, lógico, para o itaú cultural, um dos meus espaços preferidos de arte e cultura na cidade) e cenografia, além de microfones de lapela (que fazem uma grande diferença), ou seja, infraestrutura de primeira. Claro: não foi na sala vermelha nem teve comes e bebes. O espaço utilizado é a "garagem" (brincadeira gente) do itaú cultural, geralmente destinado a teatro e shows onde já vimos Jaraguá Mulungu, Vestido de Noiva pelo Satyros, entre outros.

Vale, e muito, falar de um fanzine que a gente recebeu antes do evento, feito por um pessoal de Santa Maria - RS. Overclock. Fanzine de cultura cyberpunk (música, cybercultura, cinema, hq - embora não tenha nenhuma - ficção científica). O material é muito bonito, com belas imagens e muito bem diagramado. Nesse pequeno tempo ainda não deu para ler muita coisa, mas o material é bom, garantimos: traduções do fanzine de Bruce Sterling (dos anos 80) texto de Bráulio Tavares e outras coisas finas. Lembrando: a diagramação é jeitosa e bonita, muito diferente da grande maioria de fanzines impressos ou virtuais.

Em geral, como sempre, cada um tem suas opiniões, bem divergentes, sobre o evento. Essa postagem é uma forma de expor a minha visão sobre ele e não reflete a opinião do grupo.

Seguirei com meus relatos, mais ou menos demorados, aos longo dos dias, como fiz com o Fantasticon. Espero que apreciem.


LUIZ PIRES,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas no Unicentro
Belas Artes

domingo, 14 de setembro de 2008

Feliz Aniversário! (superpost)

Setembro é um mês simbólico para o Fabulário. No dia 03, nosso Blog fez aniversário. De uma certa maneira, isso é um marco para os mais de dois anos de reuniões e trabalho.

Nossos membros e amigos falam de sua experiência e expectativas em relação ao grupo.

Inspirada pelo Homem do Castelo Alto (Philip K Dick) decidi perguntar ao I CHING (Livro das Mutações - Oráculo Chinês) sobre o futuro do Fabulário... Eis a resposta:

A Sentença:
Ku indica grande progresso e sucesso ao que souber agir como deve. Haverá vantagens em esforços, tais como atravessar o Grande Caudal. Deverá, entretanto, ponderar bem os fatos, muito antes de chegar à Encruzilhada, e ponderar bem os fatos, por bastante tempo, depois da Encruzilhada.

Queda
Destruição, grande força, reconstrução.
E quanto à interpretação da resposta: 'Devemos ter em mente que as interpretações e análises são ao mesmo tempo subjetivas, poéticas, filosóficas e intuitivas; deve ser assim consideradas pelo Consulente, que deve dar asas à sua imaginação e intuição, para interpretar e aplicar as Revelações Oraculares a seu Universo Íntimo.'
Deixo a todos que lerem a Sentença a missão de desvendar a mensagem e o prazer de voar e criar nesse meio místico.

Pra mim, a mensagem vem como um bom prenúncio, e desejo ao Fabulário um futuro milenar!

— JoJo-Joy

Pra falar a verdade, relutei para entrar no grupo. Primeiro porque sempre detestei trabalhar em grupo. Segundo porque no início as reuniões ocorriam de madrugada, e eu como pessoa naturalmente diurna (daquelas que dormem em festas) não me sentia muito predisposta a varar noites semi-acordada. Terceiro porque acreditava que não poderia dar ao grupo tudo que ele necessitava: tempo, empenho, atenção.

Muita coisa mudou. Aprendi a gostar de trabalhar em grupo e descobri a diferença essencial entre grupo e coletivo: um trabalho coletivo reúne pessoas com interesses em comum e vontade de realizar coisas, sejam discussões, sites, palestras, oficinas, peças de teatro. Um coletivo contempla trabalhos individuais, questionando, criticando e melhorando a produção de cada um. Também promove trabalhos feitos por todos, trabalhos em que a opinião e a mão de obra dos membros são fundamentais.

Quantos aos outros dois tópicos, as reuniões se tornaram diurnas (ainda bem!) e o Fabulário, meio que sem querer, ganhou parte do meu tempo, muito de meu empenho e de minha atenção. Não há como terminar sem desejar que o Fabulário faça muitos mais aniversários.

— Cara Carolina

Não faz muito tempo, fui convidado por dois bons amigos a dar uns “pitacos” em uma tal “produção independente de literatura fantástica”. Relutante em aderir a mais um projeto difícil, fui seduzido pelo potencial que senti ao ter em mãos a primeira edição do “Fabulário”.

E então de lá pra cá, muita coisa aconteceu, nossas vontades e ações foram crescendo, e resultando em projetos que antes não imaginávamos.Com a força do grupo, crescemos através de erros, acertos, criticas, conselhos, discussões e muitas risadas.

O aniversário do blog é apenas uma pequena data para configurar algo que não tem medida. Apenas uma placa sinalizando que estamos seguindo um bom caminho. Sem atalhos, com direito a retornos e revisão de rotas, mas certos de seguir em frente.

— Diogo Nógue

Já faz algum tempo em que três de nós tiveram, em alguma madrugada aí, a idéia vaga de um grupo que discutisse e escrevesse literatura fantástica. Talvez por causa do sono que todos estavam no dia. Só sei que muita coisa mudou desde o tempo em que nós ficávamos discutindo até o fim da noite, muitas vezes sem sair do lugar e muitas sem mesmo precisar fazer isso.

Não sei o que mudou para melhor ou pior, mas a certeza é a de que no mínimo não estagnamos. Reuniões, Zine, Blog, apoios... Se não sei exatamente para onde vamos , é bom saber que pelo menos estamos indo!

— Tadeu Andrade

A primeira vez que um grupo foi reunido entre alguns de nós em torno do tema foi em novembro de 2005. As mensagens em nossa primeira lista de discussão pipocaram até 17 de fevereiro de 2006. Não deu muito certo naquela época, é verdade, mas plantou uma semente para o futuro.

Exatamente um ano depois (18 fev) eu "reinaugurei" nossa lista de discussão, motivado pelas reuniões que começamos a fazer nas madrugadas de domingo, em um apartamento na Parada Inglesa. Dessa vez foi de verdade.

As discussões iniciais nos levaram a pesquisas e as pesquisas a propostas. O Fanzine, que a princípio foi uma sugestão simples, ganhou vigor - e nos motivou também a criar este Blog.

Algumas pessoas se afastaram pelo tempo ou desinteresse. Mas muita coisa bacana aconteceu e novas pessoas se aproximaram. Escrevemos, desenhamos, fizemos 3 fanzines, estivemos em muitos eventos, entrevistamos, viajamos (Ilha Comprida, Paraty...), os Fanzines Viajaram (Goiás, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Protugal, Texas...), fotografamos, discutimos, brigamos, nos entendemos, lemos muita coisa (uns mais, outros menos), conhecemos muita coisa nova e muita gente. É impossível mensurar todas as conquistas... com essas já dá para ter uma idéia.

Nessa ocasião simbólica de aniversário de 1 ano do Blog, eu queria agradecer a todas as pessoas que estiveram ao nosso lado, agradecer imensamente. Todos as pessoas que de alguma forma estiveram com a gente nesse tempo, presencial ou virtualmente, sabendo ou não que estavam conosco. De Franz Kafka à mocinha que nos ajudou no B_arco. Obrigado a todos! Sem vocês nossas conquistas não seriam possíveis.

Deixo um agradecimento especial para nosso membros mais distantes: Pedro Rebucci, Rodrigo Canale, L R Fernandes, Eduardo Geber. As portas sempre estarão abertas para vocês, com uma cerveja gelada na geladeira se for o caso!

— luiz falcão

A verdadeira história do Fabulário é o que venho expor neste post de aniversário. (Eu sou do tipo que sempre dá parabéns atrasado) Eis: Um dia, quando os titãs ainda punham seus pés sobre o solo, alguns Deuses da floresta comemoravam o qüinquagésimo sexto dia do ano em uma grande festa - no dia anterior haviam comemorado o qüinquagésimo quinto dia do ano.

— Rato

Mário de Andrade dizia que cada poema tem uma gota de sangue e, se analisarmos bem, tudo que nós produzimos tem uma gota de sangue. Ao contrário do artista, o sangue não significa simplesmente uma parte da vida que se esvai e fica, mas a completude da eterna significação que nós damos a esse mundo.

Nunca a expressão "dar a vida" foi tão significante para mim!

Ao observar esse grupo, é eminente argüir sua aspiração: nascidos para dar mais vida a esse mundo sublunar, eles conseguem galgar muito além desses objetivos. Andando e dialogando com as estrelas, sem nem ao menos perder o rumo do chão, eles cresceram... se fortaleceram... e lançaram seu zine. Agora, chegaram, ao fecundo momento de grande celebração. Já passou-se um ano? Um ano indubitavelmente fértil, onde muito foi aprendido.

(...)

Mais do que um aprendizado, vocês engendraram algo mais profundo: o (re)conhecimento... o (re)conhecimento desses pequenos cortes de pompa da realidade chamado ficção.

Bom, essa é minha homenagem e relato.

Parabéns, boa sorte e bom trabalho.

Muy Atenciosamente,

— Du Geber
Graduando de História pela Universiade Federal de Ouro Preto e Editor da Revista Eletrônica Caderno de História


Paula Betereli, Daniel Falcão, Joyce Nicioli, Tadeu Andrade, RAfael Castro e Diogo Nogeira,
São os membros do Fabulário e agradecem

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Fabulário no Vocabulário

Ainda em São Paulo, o pessoal da Não Editora enfrentou novamente a garoa (pode parecer perseguição, mas foi só ironia do destino) para comparacer ao Vocabulário, evento literário promovido pelo Centro Cultural o B_arco com - http://www.obarco.com.br/ sempre em bad gateway, mas existe- (des)apresentação dos malucos Chacal, Marcelino Freire, Marcelo Montenegro e Paulo Scott. Na sua segunda edição, o Vocabulário reúne escritores e poetas de todas as cores e formas para leituras, declamações, cantos, improvisações, performances e divulgação de seus trabalhos.

Reginaldo Pujol levou todos a altas gargalhadas com a leitura de um conto do seu livro Azar do Personagem. Da Não, participaram também Samir Machado de Machado, com uma não-apresentação da Não Editora; Rodrigo Rosp, falando um pouco da editora e do livro A Virgem que não conhecia Picasso; Antonio Xerxenesky, lendo um trecho de Areia nos Dentes; e Guilherme Smee, que não falou nada, mas foi elogiado pelo belo sorriso.

Fomos no evento inicialmente para prestigiar e conversar um pouco com os amigos da Não Editora, mas tivemos também a oportunidade de ver outras apresentações interessantes de nomes já conhecidos e de pessoal novo. Muitas até: não dá para comentá-las todas aqui. Feliz ou infelizmente (não temos como saber, afinal), tivemos que deixar a casa antes do final.

Avaliação positiva! Confira fotos:


A entrada d'o B_arco, que conta com diversos espaços como café, galeria, teatro, livings e tudo o mais!


Exposição do trabalho de Marcus Vinícius, na Galeria Virgílio (que funciona junto ao B_arco) Essas pessoas da foto? Não conhecemos.


O "stand" da Não editora, que consistia em uma mesa, um guarda-chuva, livros e camisetas


Também com "stand", os maloqueiristas" da Não Funciona


Autografando, Antônio Xerxenesky, que nos presenteou com seu livro Areia nos Dentes. Ao fundo, obra de Sílvia Velludo. Antônio também revelou seus dotes artísticos ao rabiscar um "Chtullu feliz", ao lado da assinatura.


LUIZ PIRES e CARA CAROLINA,
são webdesigners e estudantes
de Artes Plásticas no Unicentro
Belas Artes (é, os dois são)