quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Janela Interna



O "conto" que se segue é um experimento para meu TCC(Trabalho de conclusão de Curso) na linguagem de pintura. Este texto é uma conversa entre o meu métedo de pintar com os motivos que me instigam. Seu objetivo é construir uma imagem carregada de uma sensação e sentidos. como se percorrêssemos uma sequência de grandes quadros e nossos olhos fossem se apegando a cada detalhe para formar um todo.
A construção do texto pretende trazer os elementos que vão ser trabalhados na tela. como uma troca: ao mesmo tempo o repertório da pintura é a base para o texto, este texto dará vida a uma nova tela.
Agora vocês terão a chance conferir o texto, mas vou ficar devendo a tela em si!

Boa leitura a todos.


Flutuava no espaço como que pendurada por linhas invisíveis. O céu de um vermelho carmim refletia nas nuvens cinzas, tingindo-as em matizes imprecisas.

Ele tinha a cabeça virada para o alto, como se observasse a janela suspensa, mas seus olhos estavam fechados, seus olhos nem existiam de fato. Todavia, a janela não estava no céu externo, habitava dentro dele, suspendia seus pensamentos e desejos, costurava seus medos, escondia suas verdades.


Estendeu o braço, tentando alcançar a grande janela, agarrou-se às nuvens rasgando o céu. Repetiu o gesto, agora com a mão esquerda, impulsionando seu corpo e se prendendo as paredes celestes, seu peso fez uma nova fenda no espaço e delas, brotaram linhas negras, agarrando seus braços em um nó forte e rígido. Agora não podia continuar sua escalada e nem voltar atrás.

Corvos sobrevoavam sua cabeça, e rápidos, se postaram acima da janela, olhando fixamente para o sol poente. O tempo corria devagar.
Um líquido viscoso amarronzado começou a escorrer das fendas no céu, descendo pelos seus braços, cobrindo suas roupas e sua pele, começava a sufocá-lo.

Aflito, se debatia, usando todas suas forças, tentava abrir os seus olhos e se livrar das linhas que prendiam seu corpo aos céus.

Esperneava-se, e sua perna direita se enganchou ao último suspiro do vento e penetrou o céu. Agora seu corpo desenhava uma estranha pose no ar, ainda com os olhos fechados, não pode ver que agora, a janela se abria.

Sentiu suas pernas serem puxadas pela fenda. Enquanto uma luz matinal invadia o céu vermelho da sua mente tornando tudo menos nebuloso e confuso.

Um grande olho surgiu por detrás da janela. Tapando toda luz. O olhar curioso buscava compreender o que via.

Enquanto ele aos poucos abria os seus olhos e sentia seu corpo ser costurado ao liquido viscoso que o envolvia.
A última coisa que viu foi a si mesmo, pendurado em memórias tristes, preso por seu passado.


DIOGO NOGUEIRA ,
é Designer Gráfico e ilustrador,
estudante de Artes Pláticas
no Unicentro Belas Artes

5 comentários:

Luiz Falcão disse...

Opa!?

E essa ilustra aí? 100% photoshop ou tem umas diogices matéricas nela?

Diogo (Nógue) Nogueira disse...

haha então eu fiz toda no photoshop usei fotos mas tem umas misturas de manchas que fiz com acrilica e passei para o computador. dai que vem as textura da imagem e o fundo tb.

Aninha disse...

uau, Diogo. eu realmente amei o texto, de uma sensibilidade! gostei mesmo dele, vc usa bem palavras, e o resultado foi belo :)

Gustavo Matte disse...

gostei do efeito. Tento fazer a mesma coisa, sempre. Mas no seu caso é muito mais difícil, são imagens abstratas. Parabéns.

Diogo (Nógue) Nogueira disse...

obrigado Gustavo, é no meu caso eu tento usar os elementos da pintura no texto, desde os materiais até ações pictóricas.