domingo, 18 de janeiro de 2009

"Um livro de outro mundo!"

ficção de polpa volume 2

Ficção de Polpa – Volume 2 é a segunda edição da coletânea que, inspirada nas antigas pulp magazines do início do século XX, reúne contos de ficção especulativa de novos autores, em sua maioria. Com organização de Samir Machado de Machado, Ficção de Polpa teve sua primeira edição lançada em 2007. Enquanto no Volume 1 os contos presentes se aproximaram mais do horror, com narrativas tensas e viscerais, o Volume 2 é mais dedicado à Ficção Científica. Nesta edição, paira no ar a crescente solidão e “uma certa melancolia”.

A citação de Bradbury, logo no início do livro, só poderia ser um feliz prenúncio. Características do universo ficcional do autor americano surgem com frequência em diversos contos da coletânea, alguns em maior dosagem que em outros, ao passo que falam de ausência, saudade e memória, da não-linearidade do tempo.

Impossível não lembrar de A Hora Zero, conto da década de 40 de Bradbury. Se em A Hora Zero, os alienígenas invadem a terra com a ajuda de astutas e bem organizadas criancinhas, em Visitas a presença alienígena surge por intermédio de um walktalk paraguaio, presente que Rafael ganha do pai na véspera de seu aniversário de 8 anos. Embora se passe o interior do Rio Grande do Sul, o cenário de desolação que é o quintal da casa de Rafael, com mesas de plástico sobre a grama molhada, cairia muito bem nas pequenas cidades que povoaram a infância de Bradbury em Illinois.

Olhar para o passado sempre acaba por trazer um tanto de melancolia. Em Traz outro amigo também, de Yves Robert, um detetive aceita um caso dificílimo: encontrar o amigo imaginário, desaparecido há anos, de um cliente de sanidade duvidosa. Pois bem: não haveria curiosa semelhança entre a saga deste detetive, tendo que interrogar um punhado de “miúdos” e interagir imaginariamente com seus respectivos amigos invisíveis a fim de encontrar Cornélios, o desaparecido, e as aventuras de Charlie e o Coronel Stonesteel em A autêntica múmia egípcia feita em casa, de Bradbury? Não seriam a solidão e o marasmo do pacato detetive idênticos ao clima de vazio que reinava em Green Town antes das aventuras arqueológicas que a dupla de Bradbury simulou justamente para a arrancar a vida da “ociosidade mórbida” na “cidade mais comum, ordinária, medíocre e chata de toda a eterna história dos impérios”? As duas histórias, enfim, parecem trazer uma centelha de salvação.

Mas nem só de vespertina melancolia é feito o Ficção de Polpa 2. Em Cura-te a ti mesmo, de Carlos Orsi, um jovem recém formado em medicina começa seu estágio num curioso centro de pesquisa sobre cura mediúnica. Depois que o diretor lhe apresenta as recentes descobertas, o jovem lamenta não ter respondido com sinceridade a pergunta que lhe foi dirigida logo no início sobre sua convicção religiosa. Logo o ex-seminarista se confronta com suas próprias crenças e dúvidas, levando-o a tomar medidas precipitadas. O formato conto funciona muito bem nas mãos do veterano Orsi e a temática científica-esotérica é trabalhada de maneira bastante criativa.

Outros contos poderiam ser largamente abordados por aqui, mas não sem arcar com a ira dos leitores que não conseguiriam terminar este texto enquanto enganam o chefe no trabalho. Portanto, finalizo dizendo que o Ficção de Polpa – Volume 2 é promessa de textos divertidos e de qualidade. E a Não Editora parece ser um “sinal de inteligência vindo de um longínquo sistema solar”.

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CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

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