quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Crítica morta e enterrada?

Relato da mesa “As Forma de Crítica” do Seminário Rumos Literatura 2007-2008

O Prof. Samuel Titan, na última das mesas do Seminário Rumos Literatura 2007-2008, revela ter ficado irritado quando soube que o seminário ocorreria em dezembro, próximo das festas de fim de ano, crente que poucas pessoas viriam. Para o feliz engano de Titan, a Sala Itaú Cultural de mais de 200 lugares estava quase lotada.

Não pude frequentar todas as mesas. Para começar, cheguei atrasada em Atualidade de Erich Auerbach e, não sei se pelo meu atraso, pelo meu conhecimento vago ou nulo do autor em questão ou pela tradução simultânea em que as vozes bilíngues se misturam numa suave canção de ninar, esta mesa não foi muito proveitosa. Outra mesa, Atualidade de Machado de Assis (não, nem tudo era sobre a atualidade de alguém, embora fosse até pertinente num seminário que se intitula Rumos) foi deveras proveitosa, mas dizer qualquer coisa sobre ela parece chover no molhado diante da fala exuberante do Prof. João Cezar com seu sotaque londrino-carioca. Resta-me, portanto, falar sobre o doloroso assunto que é a crítica literária no Brasil.

A mesa As Formas da Crítica, mediada por Lourival Holanda, reuniu no palco dois críticos literários de peso: Silviano Santiago, do alto dos seus 70 e poucos anos, e Flora Süsskind. Silviano pontuou sua fala com a imagem do crítico-criador, ou seja, o ficcionista que também é crítico e/ou o crítico que também é ficcionista. Segundo Silviano, o mercado pós-moderno de literatura rejeitara a produção do artista-crítico. Atuar nos dois campos seria um tanto constrangedor de se confessar para um professor, por exemplo, mas não para um médico ou para um jogador de futebol (sutil cutucada em alguns). Pensando depois a respeito, não consegui encontrar nenhum caso de professor-crítico-ficcionista-documentarista-ensaista que fosse marginalizado pelo fato.
Pelo contrário: são fartos os casos de professores famosos (e “queridos”) por terem publicado ficções e ensaios. Talvez Santiago traga mágoas de outras eras...

Flora Sussekind levou a conversa a outros rumos. Comparou ficção e ensaio em termos de forma, definindo a relação entre ambos em três casos: o dobro do idêntico, em que ensaio e forma acabam sendo a mesma coisa; antagonismo de formas; e tensão de campos que não se consuma plenamente. Para cada, qual Flora exemplificou pertinentemente com A Novel of Thank You, de Gertrude Stein, Um teto todo seu, de Virginia Woolf e o conto A tarde de um autor, de Fitzgerald. Caberia aqui uns 5 parágrafos para destrinchar estes exemplos, mas vou pular para chegar logo a parte que nos toca.

As perguntas da platéia vieram com força. Houve, de início, um embate entre os palestrantes sobre a ficcionalização da crítica. Flora teimou em aceitar que de fato havia uma nova forma de crítica, a ficcionalizada que, em contraposição ao bom e velho estruturalismo crítico, estaria vigorando de vento em popa, e “em liberdade”, como citado pelo mediador Lourival Holanda. Outras perguntas vieram e deram a Flora a oportunidade de desvelar toda a sua descrença sobre a crítica nacional atual: haveriam pouquíssimos veículos dedicados a fazer crítica de verdade; toda a pauta destes veículos já seria predada (ou pré-dada, na norma antiga), de forma que é possível adivinhar o que vem a frente antes mesmo de abrir o Caderno 2; os correntes jornais acadêmicos seriam mal diagramados e de conteúdo maçante e doloroso; conteúdo publicado na internet se resumiria a uma “ação entre amigos”, pouco especializada e nem sempre pertinente (ops!). Silviano e Flora ressaltaram ainda que no New York Review of Books e na New Yorker ainda era possível encontrar alguns textos bons. Outras questões foram levantadas e ficaram em aberto: existe ainda algum veículo/crítico capaz de lançar um escritor (a la mode do crítico de arte moderna Greenberg, grã-padrinho da arte moderna norte-americana até a chegada da pop-art)? Prêmios vendem livros? As respostas, obviamente, ficaram para uma próxima reencarnação do tema.

O final de mesas de debate como esta sempre me leva a pensar sobre a coexistência do título inicial e os rumos que a conversa (ou desconversa) levou. Neste caso, fica a impressão de que, se algum dia houve alguma forma de crítica que se dê ao respeito, poucos ficaram vivos pra contar a história.

CARA CAROLINA ,
é webdesigner e estudante
de Artes Plásticas pelo
Unicentro Belas Artes

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